quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

Sobre o Autor do Jejum

por Lewis Bayly

Quem primeiro ordenou um jejum foi Deus no paraíso e com ele foi relacionada a primeira lei formulada por Deus, quando ordenou a Adão que se abstivesse de come o fruto proibido. Deus só pronunciou e escreveu Sua lei com o Seu povo praticando jejum (Levítico, capítulo 23), e em Sua lei ele ordena que todo o Seu povo jejue. É o que também nosso Senhor e Salvador Jesus Cristo ensina a todos os Seus discípulos sob o Novo Testamento, assumindo o jejum como prática normalmente aceita (Mat. 6:17; 9:15). Pelo jejum religioso o homem chega perto da vida dos anjos e do cumprimento do que é expresso na Oração do Senhor: "seja feita a tua vontade, assim na terra como no céu". A verdade é que a própria natureza parece ensinar este dever ao homem, dando-lhe boca pequena e garganta estreita, pois a natureza se contenta com pouco, e a graça se contenta com menos. Em nenhum outro aspecto a natureza e a graça concordam melhor do que no que se refere ao exercício do jejum religioso, pois esta prática traz estes benefícios: fortalece a memória e aclara a mente; ilumina o entendimento e refreia os sentimentos; mortifica a carne, impede doenças e mantém a saúde; livra dos males e proporciona toda espécie de bençãos. Pela quebra deste jejum, Adão foi derrotado pela serpente e perdeu o Paraíso. Mas, por observar o jejum, o segundo Adão venceu a serpente e nos restaurou ao céu. Foi o jejum que, na arca, cobriu de segurança Noé, que a intemperança descobriu, e o largou na vinha. Pelo jejum Ló apagou as chamas libidinosas de Sodoma, que a bebida reascendeu com o fogo do incesto. O jejum religioso e a conversação com Deus fizeram o rosto de Moisés brilhar diante dos homens, ao passo que o comer e o beber idolátricos fizeram os israelitas parecerem abomináveis à vista de Deus. A prática do jejum arrebatou Elias numa carruagem angelical para o céu, ao passo que o voluptuoso Acabe foi enviado num carro de sangue para o inferno. O jejum fez Herodes acreditar que João Batista viveria após a morte graças a uma bem-aventurada ressurreição, ao passo que, depois de uma vida de costumes inveterados, esse rei nada pôde prometer a si mesmo senão a morte eterna, a destruição eterna. Ó divina ordenança de um divino autor!


Extraído do excelente livro "A Prática da Piedade" de Lewis Bayly publicado pela Editora PES.


segunda-feira, 28 de outubro de 2013

Como Não Cometer Idolatria ao Dar Graças

Por John Piper

Jonathan Edwards tem uma palavra para o nosso tempo, que dificilmente seria mais penetrante se ele estivesse vivo hoje. Tem a ver com o fundamento da gratidão.
A verdadeira gratidão ou agradecimento a Deus, por sua bondade para conosco, surge de um fundamento lançado antes: amar a Deus pelo que Ele é em si mesmo; enquanto a gratidão natural não tem tal fundamento antecedente. As comoções graciosas de afeição grata para com Deus, pela bondade recebida, sempre procedem de um estoque de amor já presente no coração, estabelecido em primeiro lugar sobre outro fundamento, a saber, a própria excelência de Deus.1
Em outras palavras, a gratidão que agrada a Deus não é, em primeiro plano, um deleite nos benefícios dados por Deus (embora isso faça parte dela). A verdadeira gratidão deve estar enraizada em algo que vem antes, isto é, um deleite na beleza e na excelência do caráter de Deus. Se isto não for o fundamento de nossa gratidão, então não está acima do que o “homem natural” — sem o Espírito e a nova natureza em Cristo — experimenta. Nesse caso, a “gratidão” a Deus não Lhe é mais agradável do que todas as outras emoções que os incrédulos têm sem deleitarem-se nele.
Você não seria honrado se eu lhe agradecesse freqüentemente pelos seus dons para comigo, mas não tivesse consideração espontânea e profunda por você como pessoa. Você se sentiria insultado, não importando o quanto eu lhe agradecesse por seus dons. Se o seu caráter e personalidade não me atraíssem, nem me dessem alegria de estar na sua presença, você se sentiria usado, como uma ferramenta ou uma máquina para produzir as coisas que eu realmente amo.
O mesmo acontece com Deus. Se não somos atraídos por Sua personalidade e caráter, todas as nossas declarações de gratidão são como a gratidão de uma esposa ao marido pelo dinheiro que ela recebe dele para usar em seu relacionamento com outro homem. Esta é exatamente a figura apresentada em Tiago 4:3-4. Tiago critica os motivos da oração que trata a Deus como um marido de adúltera: “Pedis, e não recebeis, porque pedis mal, para o gastardes em vossos deleites. Adúlteros e adúlteras, não sabeis vós que a amizade do mundo é inimizade contra Deus? Portanto, qualquer que quiser ser amigo do mundo constitui-se inimigo de Deus”. Por que ele chama essas pessoas que oravam de adúlteras? Porque, embora estivessem orando, estavam abandonando seu marido (Deus) e indo atrás de um amante (o mundo). E para piorar as coisas, estavam pedindo a seu marido (em oração) que financiasse o adultério.
Surpreendentemente, esta mesma dinâmica espiritual deficiente é verdadeira, às vezes, quando as pessoas agradecem a Deus por ter mandado Cristo para morrer por elas. Talvez você já tenha ouvido alguém dizer o quanto devemos ser gratos pela morte de Cristo, porque ela nos mostra o grande valor que Deus nos deu. Qual é o fundamento desta gratidão?
Jonathan Edwards chama isso de gratidão de hipócritas. Por quê? Porque, primeiro eles se regozijam e se elevam com o fato de que são muito estimados por Deus; e então, sobre esse fundamento, Deus lhes parece de certa forma amável… Eles se alegram no mais alto grau em ouvir o quanto Deus e Cristo os estima. Portanto, o gozo deles é na verdade um gozo em si mesmos, e não em Deus.2
É chocante descobrir que uma das descrições mais comuns, hoje, sobre como responder à cruz, pode ser uma descrição de amor natural por si mesmo, sem qualquer valor espiritual.
Faremos bem em dar ouvidos a Jonathan Edwards. Ele não estava apenas nos explicando a verdade bíblica de que devemos fazer todas as coisas, incluindo dar graças, para a glória da Deus (Coríntios 10:31)? E Deus não é glorificado se o fundamento da nossa gratidão é o valor do dom, e não a excelência do Doador. Se a gratidão não está enraizada na beleza de Deus antes do dom, ela provavelmente é uma idolatria disfarçada. Que Deus nos conceda um coração que se deleite nele por aquilo que Ele é, para que toda a nossa gratidão por seus dons seja o eco da alegria na excelência do Doador!

Notas

1. Jonathan Edwards, Religious Affections, The Works of Jonathan Edwards, Vol. 2, New Haven: Yale University Press, 1959, orig. 1746, p.247.

2. Jonathan Edwards, Religious Affections, pp. 250-251.

Retirado do site desiringgod.org: 
http://www.desiringgod.org/resource-library/articles/how-not-to-commit-idolatry-in-giving-thanks?lang=pt

terça-feira, 15 de outubro de 2013

A Santidade é o Princípio Chave

por João Calvino


  1. O plano das Escrituras para a vida de um cristão é duplo. Primeiro, que sejamos instruídos na Lei para amar a retidão, porque por natureza não estamos inclinados a fazê-lo; segundo, que aprendamos umas regras fáceis mas importantes, de modo que não desfaleçamos nem nos debilitemos em nosso caminhar. Das muitas recomendações excelentes que faz a Escritura, não há nenhuma melhor do que este princípio: "Sede santos porque Eu sou Santo". Quando andávamos espalhados como ovelhas sem pastor, e perdidos no labirinto do mundo, Cristo nos chamou e nos reuniu para que pudéssemos voltar a Ele.
  2. Ao ouvir qualquer menção de nossa união mística com Cristo, deveríamos recordar que o único meio para consegui-la é a santidade. A santidade não é um mérito por meio do qual podemos obter comunhão com Deus, mas um dom de Cristo, o qual nos capacita para estarmos unidos a Ele e a seguir-lhe. É a própria glória de Deus que não pode ter nada a ver com a iniquidade e a impureza; portanto, se queremos prestar atenção ao Seu convite, é imprescindível que tenhamos este princípio sempre presente. Se no transcurso de nossa vida cristã queremos seguir aderidos aos princípios mundanos, para quê, então, fomos resgatados da iniquidade e da contaminação do mundo? Se desejamos pertencer ao Seu povo, a santidade do Senhor nos admoesta a que vivamos na Jerusalém Santa de Deus. Jerusalém é uma terra santa, portanto não pode ser profanada por habitantes de conduta impura. O salmista disse: "Senhor, quem habitará em teu tabernáculo? Quem morará no teu monte santo? Aquele que anda em integridade e faz justiça, e fala a verdade em seu coração." O santuário do Santíssimo deve manter-se imaculado. Ver Lv. 19.2, 1Pe 1.16, Is 35.10, Sl 15:1-2 e 24.3-4

(Tradução livre a partir do livro "O libro de oro de la Verdadera Vida Cristiana" de Grandes Clásicos Cristianos.)
Descrição: Publicado em 1550 em latim e francês, com o título De Vita Hominis Christianiti, e traduzida em diferentes idiomas a longo das gerações, esta obra de João Calvino é um dos clássicos devocionais da literatura protestante, junto com a imitação de Cristo de Kempis e o Manual de Reforma Interior de Gerald Zerbolt. Não obstante, a obra de Calvino adota um enfoque distinto ao focar-se, de uma maneira especial, nos aspectos eminentemente práticos da vida cristã, tomando assim a linha mais realista manifestada por Jesus Cristo mesmo: Não rogo que os tires do mundo, mas que os livres do mal (Jo 17.15). Podemos afirmar, pois, que o Livro de Ouro da Verdadeira Vida Cristã contêm em sua essência todo o gênio da Reforma, no que concerne a consolar o coração, inspirar a mente e fortalecer a vontade.

domingo, 13 de outubro de 2013

A Escritura é a Regra da Vida

por João Calvino

  1. A meta da nova vida em Cristo é que os filhos de Deus exibam a "melodia e harmonia" de Deus em sua conduta. Que melodia? A canção do Deus de Justiça. Que harmonia? A harmonia entre a justiça de Deus e a nossa obediência. Somente andando na maravilhosa lei de Deus podemos estar seguros de nossa adoção como filhos do Pai. A lei de Deus contêm em si mesma a dinâmica da nova vida por meio da qual Deus restaura Sua imagem em nós; mas devido a sermos, por natureza, preguiçosos e negligentes,  necessitamos, portanto, da ajuda e do estímulo de um princípio que nos guie em nossos esforços. Um sincero arrependimento de coração não garantirá que não nos desviemos do caminho reto. E mais, muitas vezes nos encontramos perplexos e desconcertados. Busquemos, pois, nas Escrituras o princípio fundamental para reformar e orientar nossa vida.
  2. A Escritura contêm um grande número de exortações e, para tratar com todas elas, necessitaríamos de um grande volume. Os pais da igreja têm escrito grandes obras sobre as virtudes que são necessárias na vida cristã. São escritos de um significado tão valioso que nem os eruditos mais hábeis poderiam esgotar as profundidades de uma só virtude. Entretanto, para uma devoção pura, não é necessário ler as excelentes obras dos pais da igreja, mas entender somente a regra básica da Bíblia. 1
  3. Ninguém deveria concluir que a brevidade de um tratado sobre a conduta cristã faz que os escritos elaborados de outras pessoas seja supérfluos ou que sua filosofia tenha pouco val, os filósofos estão acostumados a falar dos princípios gerais e de regras específicas, mas a Escritura tem a sua ordem própria. Os filósofos são ambiciosos e, por conseguinte, apontam a uma esquisita claridade e uma hábil ingenuidade; mas as Escrituras têm uma formosa precisão e uma certeza que sobrepassa a todos os filósofos. Os filósofos a princípio fazem demonstrações comovedoras, mas o Espírito Santo tem um método diferente (direto, fácil e inteligível), no qual nada deve ser subestimado. 2
 1. Aqui, Calvino insere: "Não sou a pessoa certa para escrever copiosamente, já que amo ser sucinto. É provável que eu tente isso no futuro; de todas as formas, deixarei esta tarefa a outros."
2. Evidentemente Calvino está pensando aqui em 1 Co 1.3

(Tradução livre a partir do livro "O libro de oro de la Verdadera Vida Cristiana" de Grandes Clásicos Cristianos.)
Descrição: Publicado em 1550 em latim e francês, com o título De Vita Hominis Christianiti, e traduzida em diferentes idiomas a longo das gerações, esta obra de João Calvino é um dos clássicos devocionais da literatura protestante, junto com a imitação de Cristo de Kempis e o Manual de Reforma Interior de Gerald Zerbolt. Não obstante, a obra de Calvino adota um enfoque distinto ao focar-se, de uma maneira especial, nos aspectos eminentemente práticos da vida cristã, tomando assim a linha mais realista manifestada por Jesus Cristo mesmo: Não rogo que os tires do mundo, mas que os livres do mal (Jo 17.15). Podemos afirmar, pois, que o Livro de Ouro da Verdadeira Vida Cristã contêm em sua essência todo o gênio da Reforma, no que concerne a consolar o coração, inspirar a mente e fortalecer a vontade.

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

Dias de Vingança - Preâmbulo

por David Chilton

O preâmbulo em Deuteronômio (comp Ap 1:1-5) começa assim: " Estas são as palavras..."1 Logo o texto identifica o orador com Moisés, a quem, como mediador do Pacto, se tem "ordenado" entregar e explicar a "lei" de Deus a Israel. 
"Portanto, Javé é o Senhor que outorga o pacto e Moisés é o representante e o mediador do Pacto. Deste modo, esta seção se relaciona ao preâmbulo dos tratados extra-bíblicos, que também identificava o orador, o qual, por meio do pacto, declarava seu senhorio e reclamava a obediência do vassalo"2
No Apocalipse, o preâmbulo começa com uma expressão similar: "Revelação de Jesus Cristo, a qual Deus lhe deu, para mostrar aos seus servos as coisas que brevemente devem acontecer; e pelo seu anjo as enviou, e as notificou a João seu servo;O qual testificou da palavra de Deus, e do testemunho de Jesus Cristo, e de tudo o que tem visto."(Ap 1:1-2).

O propósito do preâmbulo do pacto é, pois, proclamar o senhorio do Grande Rei, declarando sua transcendência e imanência, e deixando bem claro desde o começo que sua vontade tem de ser obedecida pelos seus vassalos, seus servos. Os tratados bíblicos estabelecem a transcendência e imanência de Deus referindo-se a uma ou mais de três atividades: Criação, Redenção e Revelação. São as duas últimas que se sublinham especialmente no preâmbulo de Apocalipse. Já temos notado a ênfase na revelação divina na frase inicial, e isto é reforçado nos versículos seguintes. As igrejas tinham de "ouvir as palavras desta profecia, e guardar as coisas nelas escritas", e o Senhor acrescenta um benção especial sobre os que obedecem (Ap 1:3); João se refere novamente a si mesmo como aquele que tem testificado de "a palavra de Deus e o testemunho de Jesus Cristo" (Ap 1:9). Além disso, fala da revelação que veio a Ele em termos dos modelos correntes e familiares da revelação do pacto através da história bíblica. "Eu fui arrebatado no Espírito no dia do Senhor, e ouvi detrás de mim uma grande voz, como de trombeta, que dizia: E o que vês, escreve-o num livro..." (Ap 1:10-11)

A redenção também é enfatizada nesta passagem: "E da parte de Jesus Cristo, que é a fiel testemunha, o primogênito dentre os mortos e o príncipe dos reis da terra. Àquele que nos amou, e em seu sangue nos lavou dos nossos pecados, E nos fez reis e sacerdotes para Deus e seu Pai; a ele glória e poder para todo o sempre. Amém." (Ap 1:5-6). Além disso, se declara especificamente que Cristo é o Redentor, o Filho do Homem, que "vem com as nuvens" na nuvem gloriosa de sua ascensão ao Pai e do Juízo vindouro sobre Israel para receber o império, a glória e um Reino; que será visto "pelos que o transpassaram", e sobre quem "se lamentarão "todas as tribos da terra" (Ap 1:7; comp Dn. 7:13-14; Zc 12:10-14; Mat 24:30; Jn 19:37; Ef 1:20-22). A visão de Cristo que João teve desenvolve a idéia de sua obra redentora: Está vestido como um Sumo Sacerdote (Ap 1:13), revelado como a Glória de Deus encarnada (Ap 1:14-15), o Criador e Sustentador do mundo, cuja poderosa Palavra sai para conquistar as nações (Ap 1:16); que morreu e ressuscitou dentre os mortos, e que vive sempre (Ap 1:17-18)!

Notas:
1. O título de Deuteronômio em Hebraico é simplesmente: As palavras.
2. Meredith G. Kline, Treaty of the Great King (Grand Rapids: William B. Eerdmans Publishing Co., 1963), p. 30.

terça-feira, 17 de setembro de 2013

Os judeus que não são judeus...


por David Chilton 
 E ao anjo da igreja em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu: Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida.
Apocalipse 2:8-10
 ...Não era fácil ser cristão em Esmirna. Certamente não foram livres da tribulação por um "arrebatamento"; e isto frequentemente significava pobreza também, por causa de sua posição em favor da fé. Talvez estavam sujeitos ao confisco de suas propriedades (comp. Hb 10:34) ou ao vandalismo; é também provável que fossem objetos de boicotes financeiros por se recusarem a ficar lado a lado com os pagãos adoradores do estado ou dos judeus apóstatas. (comp. Ap 13:16,17). Mas, em sua pobreza, eram ricos no sentido mais básico e último; considerados pelo mundo "como pobres, mas enriquecendo a muitos; como não tendo nada, mas possuindo tudo" (2 Co 6:10). "Eu sei tudo o que estás suportando", lhes assegura o Senhor; Ele se identifica com eles em seus sofrimentos, até o ponto de que "em toda angústia deles, Ele foi angustiado" (Is 63:9; cf. vs. 2 e 3). Como observou o teólogo puritano John Owen, todas nossas perseguições " são Suas em primeiro lugar, e nossas somente por participação" (com. Cl 1:24).9

E ele sabe tudo sobre a blasfêmia de seus perseguidores também - os que dizem ser judeus e não são. Aqui o Senhor é explícito sobre a identidade da oposição que a igreja primitiva enfrentava: Os que de outra maneira eram conhecidos como nicolaítas, os seguidores dos falsos apóstolos Balaão e Jezabel, são aqui definidos como os que afirmam ser judeus, filhos de Abraão, mas que na realidade são filhos do diabo. Estes são os israelitas que tem rejeitado a Cristo, e tem rejeitado assim, ao Deus de Abraão, Isaque e Jacó. Há um mito popular que sustenta que os judeus não cristãos são verdadeiros crentes no Deus do Antigo Testamento, e que só precisam agregar o Novo Testamento a sua religião, que no demais é adequada. Mas o mesmo Novo Testamento é inflexível neste ponto: os judeus não cristãos não são crentes em Deus, e sim apóstatas, quebradores do pacto. Como Jesus disse: Se fôsseis filhos de Abraão, faríeis as obras de Abraão...Vós fazeis as obras de vosso pai...Se Deus fosse o vosso Pai, certamente me amaríeis...Vós tendes por pai ao diabo, e quereis satisfazer os desejos de vosso pai. Ele foi homicida desde o princípio, e não se firmou na verdade, porque não há verdade nele. Quando ele profere mentira, fala do que lhe é próprio, porque é mentiroso, e pai da mentira. (Jo 8:39-44). A verdade é que não há tal coisa como um judeu "ortodoxo", a menos que ele seja cristão; porque se os judeus cressem no Antigo Testamento, creriam em Cristo. Se um homem não crê em Cristo, também não crê em Moisés (Jo 5.46)

Paulo escreveu: Porque não é judeu o que o é exteriormente, nem é circuncisão a que o é exteriormente na carne. Mas é judeu o que o é no interior, e circuncisão a que é do coração, no espírito, não na letra; cujo louvor não provém dos homens, mas de Deus. (Rm 2:28-29). Por esta razão, Paulo foi bastante audaz para usar esta linguagem ao advertir às igrejas contra as seduções dos judeus apóstatas: "Guardai-vos dos cães, guardai-vos dos maus obreiros, guardai-vos da circuncisão; Porque a circuncisão somos nós, que servimos a Deus em espírito, e nos gloriamos em Jesus Cristo, e não confiamos na carne." (Fp 3:2-3). A palavra traduzida como circuncisão significa cortar ao redor; a falsa circuncisão é literalmente concisão, que significa cortar em pedaços. A circuncisão dos judeus, o sinal do pacto no qual confiavam, era na realidade um símbolo de sua própria mutilação e destruição espiritual, o sinal de que, através de sua própria rebelião, haviam herdado as maldições do pacto. O corte do prepúcio sempre foi uma marca de condenação. Para os justos, a aplicação ritual da ira de Deus significava que eles não sofreriam a terrível realidade; para os desobedientes, entretanto, era a antecipação das coisas por virem, um sinal da completa destruição que viria.

Então, "Quem é o verdadeiro judeu? Quem pertence ao verdadeiro Israel? Segundo o claro ensinamento do Novo Testamento, a pessoa (sem importar sua herança étnica) que se vestiu de Jesus Cristo é a herdeira das promessas feitas a Abraão, e possui as bençãos do Pacto. (Rm 4:11-24; Gl 3:7-9, 26-29). Mas, disse nosso Senhor, uma congregação de apóstatas e perseguidores não é nada mais do que uma sinagoga de Satanás. Satanás significa acusador, e a história dos cristãos primitivos abunda com exemplos do falso testemunho satânico dos judeus contra a igreja cristã (At 6:9-15; 13:10; 14:2-5; 17:5-8; 18:6,12-13; 19:9; 21:27-36; 24:1-9; 25:2-3,7). Este ponto é sublinhado pela afirmação de que alguns deles seriam lançados na prisão pelo diabo (que significa acusador, caluniador).

Porque Aquele que conhece os sofrimentos deles é o "Primeiro e o Último", Aquele que controla todas as coisas, Ele pode proporcionar consolo autorizado: "Não temas o que estás a ponto de sofrer". Alguns cristãos de Esmirna seriam trancafiados na prisão por instigação dos Judeus; mas Cristo lhes assegura que isto também é parte do grande conflito cósmico entre Cristo e Satanás. As perseguições infligidas pelos judeus aliados ao império romano têm sua origem no diabo, em sua hostilidade contra os seguidores de Jesus Cristo, em seus frenéticos intentos de conservar os fragmentos do seu reino feito em pedaços. Desesperadamente, está livrando uma batalha perdida de antemão contra as multidões, que marcham implacavelmente, de uma nação de reis e sacerdotes predestinados à vitória.

segunda-feira, 16 de setembro de 2013

John Bunyan e o Consolo das Escrituras.

Ontem a noite, um pouco antes de dormir, abri aleatoriamente o livro "Graça Abundante ao Principal dos Pecadores"*, uma autobiografia de John Bunyan**. O assunto das páginas 148 e 149 era "A graça sustentadora de Deus". Fiquei preso aquela duas páginas e não pude pregar o olho enquanto não as li. Impressionou-me a maneira como o querido irmão Bunyan se apropriou das verdades bíblicas para receber consolo e saber como se comportar como um verdadeiro peregrino diante dos sofrimentos inerentes à jornada cristã:

"Antes de ser preso, percebi o que estava para acontecer e tive especialmente duas considerações em meu coração. A primeira dizia respeito a como enfrentaria a morte, se esta fosse minha sorte aqui. Colossenses 1.11 me foi um grande auxílio para orar a Deus e ser fortalecido "com todo o poder, segundo a força da sua glória, em toda a perseverança e longanimidade; com alegria. Durante todo um ano, antes de ser preso, mal podia orar sem este versículo ou esta súplica graciosa, incutindo-a na mente e convencendo-me de que, se nunca passara por um longo período de sofrimento, devia ser paciente, especialmente se quisesse suportá-lo com alegria.
Quanto a segunda consideração, este outro versículo foi um grande auxílio para mim: "Contudo já em nós mesmo, tivemos a sentença de morte, para que não confiemos em nós, e sim no Deus que ressuscita os mortos" (2 Co 1.9). Por meio desse versículo, percebi que, se algum dia, eu sofresse de maneira certa, devia antes sentenciar à morte tudo o que fosse reputado, apropriadamente, de valor nesta vida, considerando a mim mesmo, minha esposa, meus filhos, minha saúde, minha alegria e tudo mais, como mortos para mim, e a mim mesmo, como morto para elas. Depois, devia viver dependente de Deus, que é invisível. Como Paulo disse em outra passagem, o meio de não desfalecer é "não atentar nas coisas que se vêem; porque as que se vêem são temporais, e as que não se vêem são eternas!" Foi assim que ponderei comigo: "se eu me preparar somente para a prisão, o chicote virá inesperadamente, e também, o tronco. Se eu me preparar somente para estes, não estarei para ser banido. Além disso, se eu concluir que o exílio é o pior, eu me surpreenderei se a morte vier". Assim vejo que o melhor meio de passar por sofrimentos é confiar em Deus por meio de Cristo no que diz respeito ao mundo vindouro. E, em relação a este mundo, a melhor maneira de passar por sofrimentos é considerar a sepultura como minha casa; é fazer minha cama na escuridão - é dizer à corrupção "tu és meu pai", e aos vermes "vós sois minha mãe e minha irmã"; é tornar essas coisas familiares a mim."

* Excelente livro publicado pela Editora Fiel. Confira aqui.

** John Bunyan (28 de Novembro de 1628 – 31 de Agosto de 1688, Londres), escritor e pregador cristão nascido em Harrowden, Elstow, Inglaterra, foi o autor de The Pilgrim's Progress (O Peregrino), provavelmente a alegoria cristã mais conhecida em todos os tempos.

quarta-feira, 24 de julho de 2013

Suponha que um ímpio vá para o céu...

por J. C. Ryle

Por um momento, suponha que você, destituído de santidade, tivesse a permissão de entrar no céu. O que você faria ali? Que possíveis alegrias sentiria no céu? A qual de todos os santos você se achegaria e ao lado de quem se assentaria? O prazer deles não é o seu prazer; os gostos deles não são os seus; o caráter deles não é o seu caráter. Como você poderia sentir-se feliz ali, se não havia sido santo na terra?
Talvez agora você aprecie muito a companhia dos levianos e descuidados, dos homens de mentalidade mundana, dos avarentos, dos devassos, dos que buscam prazeres, dos ímpios e dos profanos. Nenhum deles estará no céu.
Provavelmente, você ache que os santos de Deus são muito restritos, sérios e individualistas; e prefere evitá-los. Você não encontra nenhum prazer na companhia deles. Mas não haverá no céu qualquer outra companhia.
Talvez você ache que orar, ler a Bíblia e cantar hinos são realizações monótonas e estúpidas, coisas que devem ser toleradas aqui e agora, mas não desfrutadas. Você reputa o dia de descanso como um fardo, uma fadiga; provavelmente, você não gasta mais do que um pequeníssima parte deste dia na adoração a Deus. Lembre-se, porém, de que o céu é um dia de descanso interminável. Os habitantes do céu não descansam, noite e dia, clamando: “Santo, santo, santo é o Senhor, Deus todo- poderoso” e cantam todo o tempo louvores ao Cordeiro. Como poderia um ímpio encontrar prazer em uma ocupação como esta?
Você acha que um ímpio sentiria deleite em encontrar-se com Davi, Paulo e João, depois de ter gasto a sua vida na prática daquelas coisas que eles condenaram? O ímpio pediria bons conselhos a estes homens e acharia que tem muitas coisas em comum com eles? Acima de tudo, você acha que um ímpio se regozijaria em ver Jesus, o Crucificado, face a face, depois de viver preso nos pecados pelos quais Ele morreu, depois de amar os inimigos de Jesus e desprezar os seus amigos? Um ímpio permaneceria confiantemente diante de Jesus e se uniria ao clamor: “Este é o nosso Deus, em quem esperávamos… na sua salvação exultaremos e nos alegraremos” (Is 25.9)? Ao invés disso, você não acha que a língua de um ímpio se prenderia ao céu de sua boca, sentindo vergonha, e que seu único desejo seria o ser expulso dali? Ele haveria de sentir-se estranho em um lugar que ele não conhecia, seria uma ovelha negra entre o rebanho santo de Jesus. A voz dos querubins e dos serafins, o canto dos anjos e dos arcanjos e a voz de todos os habitantes do céu seria uma linguagem que o ímpio não entenderia. O próprio ar do céu seria um ar que o ímpio não poderia respirar.
Eu não sei o que os outros pensam, mas parece claro, para mim, que o céu seria um lugar miserável para um homem destituído de santidade. Não pode ser de outra maneira. As pessoas podem dizer, de maneira incerta, que “esperam ir para o céu”, mas elas não meditam no que realmente estão dizendo. Temos de ser pessoas que possuem uma mentalidade celestial e têm gostos celestiais, na vida presente; pois, do contrário, jamais nos encontraremos no céu, na vida por vir.
Agora, antes de prosseguir, permita-me falar-lhe algumas palavras de aplicação. Pergunto a cada pessoa que está lendo este artigo: você já é uma pessoa santa? Eu lhe suplico que preste atenção a esta pergunta. Você sabe alguma coisa a respeito da santidade sobre a qual lhe estou falando? Não estou perguntando se você costuma ir regularmente a uma igreja, ou se você já foi batizado, ou se você recebe a Ceia do Senhor, ou se tem o nome de cristão. Estou perguntando algo muito mais significativo do que tudo isso: “Você é santo ou não?”
Não estou perguntando se você aprova a santidade nos outros, se você gosta de ler sobre a vida de
pessoas santas, de conversar sobre coisas santas, de ter livros santos em sua mesa, se você sabe o que significa ser santo ou se espera ser santo algum dia. Estou perguntando algo mais elevado: “Você mesmo é um santo ou não?”

E por que eu lhe pergunto com tanta seriedade, insistindo com tanto vigor? Faço isto porque a Bíblia diz: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor”. Está escrito, não é minha imaginação; está escrito, não é minha opinião pessoal; é a Palavra de Deus, e não a do homem: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Que palavras perscrutadoras e separadoras são estas! Que pensamentos surgem em meu coração, enquanto as escrevo! Olho para o mundo e vejo a maior parte das pessoas vivendo na impiedade. Olho para os cristãos professos e percebo que a maioria deles não têm nada do cristianismo, exceto o nome. Volto-me para a Bíblia e ouço o Espírito Santo: “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Com certeza, este é um versículo que tem de fazer-nos considerar nossos próprios caminhos e sondar nossos corações; tem de suscitar em nosso íntimo pensamentos solenes e levar-nos à oração.
Você pode menosprezar estas minhas palavras, dizendo que tem muitos sentimentos e pensamentos sobre estas coisas, mais do que muitos podem imaginar. Entretanto, eu lhe respondo: “Isto não é mais importante. As pobres almas no inferno fazem muito mais do que isto. O mais importante não é o que você sente e pensa, e sim o que você faz”.
Você pode argumentar: “Deus nunca tencionou que todos os cristãos fossem santos e que a santidade, conforme a descrevemos, é apenas para os grandes santos e para pessoas de dons incomuns”. Eu respondo: “Não posso encontrar este argumento nas Escrituras; e leio que ‘a si mesmo se purifica todo o que nele [em Cristo] tem esta esperança’” (1 Jo 3.3). “Segui… a santificação, sem a qual ninguém verá o Senhor” (Hb 12.14).
Você pode argumentar que é impossível ser santo e, ao mesmo tempo, cumprir todos os nossos deveres nesta vida: “Isto não pode ser feito”. Eu respondo: “Você está enganado”. Isto pode ser feito. Tendo Cristo ao nosso lado, nada é impossível.
Outros já fizeram isto. Davi, Obadias, Daniel e os servos da casa de Nero, todos estes são exemplos que comprovam isto.

Você pode argumentar: “Se nos tornássemos santos, seríamos diferentes das outras pessoas”. Eu res- pondo: “Sei muito bem disso. Mas é exatamente isso que você deve ser. Os verdadeiros servos de Cristo sempre foram diferentes do mundo que os cercava — uma nação santa, um povo peculiar. E você tem de ser assim, se deseja ser salvo!”
Você pode argumentar que a este custo poucos serão salvos. Eu respondo: “Eu sei disso. É exatamente sobre isso que nos fala o Sermão do Monte. O Senhor Jesus disse, há muitos séculos atrás: “Estreita é a porta, e apertado, o caminho que conduz para a vida, e são poucos os que acertam com ela” (Mt 7.14). Poucos serão salvos, porque poucos se dedicarão ao trabalho de buscar a salvação. Os homens não renunciarão aos prazeres do pecado, nem aos seus próprios caminhos, por um momento sequer.
Você pode argumentar que estas são palavras severas demais; o caminho é muito estreito. Eu respondo: “Eu sei disso; o Sermão do Monte o disse”. O Senhor Jesus o afirmou há muitos séculos atrás. Ele sempre disse que os homens tinham de tomar a sua cruz diariamente e mostrarem-se dispostos a cortarem suas mãos e seus pés, se quisessem ser discípulos dEle. No cristianismo acontece o mesmo que ocorre em outros aspectos da vida: sem perdas, não há ganhos. Aquilo que não nos custa nada também não vale nada.

Ryle serviu por quase 40 anos como ministro do Evangelho. Foi um escritor prolífico, um pregador vigoroso e um pastor fiel. Muitas de suas obras têm sido reeditadas e servido como fonte de instrução e consolo para o povo de Deus. A Editora Fiel publicou algumas de suas obras em português: o clássico “Santidade”; “Uma palavra aos moços”; “Fé genuína” e os quatro volumes de meditações nos evangelhos de Mateus, Marcos, Lucas e João.

quinta-feira, 18 de julho de 2013

O "trabalho na obra"!!!

por Anderson Loureiro

Indo eles de caminho, entrou Jesus num povoado. E certa mulher, chamada Marta, hospedou-o na sua casa. Tinha ela uma irmã, chamada Maria, e esta quedava-se assentada aos pés do Senhor a ouvir-lhe os ensinamentos. Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Então, se aproximou de Jesus e disse: Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me. Respondeu-lhe o Senhor: Marta! Marta! Andas inquieta e te preocupas com muitas coisas. Entretanto, pouco é necessário ou mesmo uma só coisa; Maria, pois, escolheu a boa parte, e esta não lhe será tirada. (Lucas 10:38-42)

Temos diante de nós uma porção das Escrituras bastante conhecida da maioria dos cristãos. Acredito que esta passagem tem muito a nos ensinar acerca de nossa relação com o que ficou comum denominar de "obra de Deus". Fala-se muito em "fazer a obra", "trabalhar na obra", ser "ativo na igreja". Numa igreja local há até quem faça distinção entre os "membros ativos" e os "membros passivos". Os membros ativos, acredita-se, são aqueles que tem os "cargos". São os membros ilustres, importantes, destacados. Acredito que precisamos de apenas um mínimo de discernimento espiritual para percebermos o erro desta maneira de pensar!

O texto nos diz que Marta agitava-se de um lado para outro, ocupada em muitos serviços. Marta era "mil e uma utilidades"! Fazia um serviço aqui e outro ali! Impressionante! Ela fazia de tudo! Não realizava apenas um serviço. Ela estava ocupada em muitos serviços. Se Marta vivesse em nossos dias, muito provavelmente ela teria um currículo e tanto! Provavelmente teria cursado uns quatro cursos do nível superior, doutorado em pelo menos dois deles, e ao menos dois empregos. E ainda teria tempo para ter um cargo na igreja local! Vivemos num mundo que possui uma mentalidade igual a de Marta. Este é um tempo pragmático. As pessoas mais valorizadas são aquelas que fazem mais, produzem mais. Aquelas que conseguem "mostrar serviço" são as que receberão a promoção! Como já disse na introdução, esta mentalidade tem adentrado à "comunhão dos santos", infelizmente.  Sem se aperceberem, alguns cristãos tem permitido que o adversário os engane fazendo-os acreditarem que, ao se destacarem dos demais irmãos, estarão agradando mais ao Senhor. Isto quando não estão, de fato, tão entorpecidos no entendimento que tudo o que desejam são os aplausos, a aprovação dos homens. 

Nesta situação de engano espiritual, o próximo passo será começarem a se comparar com os outros membros de sua congregação. Marta chama a atenção do Senhor para o fato de Maria não estar trabalhando tanto quanto ela: - Veja, Senhor, o quanto eu tenho me afadigado para te servir. Estou fazendo tanto pelo Senhor! Agora, veja Maria! Não faz nada! Só fica aí sentada diante do Senhor. Talvez Marta desejasse um elogio do Senhor. E quantos de nós não tomamos esta mesma postura! "Eu faço tanto, e os outros não fazem nada!" muitos exclamam fazendo coro com o fariseu. Me refiro àquele que subiu ao templo para mostrar suas "credenciais" a Deus, enquanto se comparava com o pobre pecador publicano!

Esse tipo de mentalidade progride (regride seria melhor) mais um passo. Ele leva a pensarmos que todos os outros membros devem fazer a mesma coisa que estamos fazendo, e além disso, com a ressalva de que sejam nossos ajudantes! Não foi isso que Marta disse? Trovejou ao Senhor: "Senhor, não te importas de que minha irmã tenha deixado que eu fique a servir sozinha? Ordena-lhe, pois, que venha ajudar-me! " Me faz lembrar o problema que Paulo estava corrigindo na igreja de Corinto (1 Co 12-14).

O que precisamos perceber é que esse tipo de engano quer levar-nos a tornar o serviço ao Senhor como um fim em si mesmo. De uma maneira mais clara, o amor que deveria ser direcionado ao Senhor por meio do serviço com o intuito de glorificá-lo, acaba sendo direcionado ao serviço supostamente ao Senhor, para a nossa própria glória! A ironia de tudo isso é que, comparando-se Marta e Maria, percebemos que a que "menos trabalhou" é a que reteria o que havia recebido. A melhor parte não seria retirada de Maria. Marta, por sua vez, não receberia nada por ter tentado mostrar "tanto trabalho". Esse é veredito do Mestre!

No capítulo 6 de João lemos que algumas pessoas perguntaram ao Senhor: "Que faremos para realizar as obras de Deus?" (vs. 28) Como o Senhor lhes respondeu? "A obra de Deus é esta: que creiais naquele que por ele foi enviado."(vs. 29) Maria fez exatamente isto. Ela estava ali, aos pés do Senhor, recebendo o ensino que a capacitava a crer, e a amá-lo. Ela estava desfrutando da Sua graça, desfrutando da Sua presença. Temos que entender que algumas "obras para Deus" tem o poder de nos afastar da presença dEle! Maria consequentemente iria servi-lO, sim, iria trabalhar para Ele. Mas precisava fazer isso a partir de uma vida que começava aos pés dEle, em submissão a Ele, em amor por Ele, na força do Espírito do Senhor! Dessa forma ela poderia trabalhar e servir não apenas ao Senhor, mas também aos seus irmãos! (Marta nem se deu conta que poderia amar e servir Maria também! Ela só pensou em "servir o Senhor") Como disse Leonard Ravenhill: "Só existe um jeito de fazer a obra de Deus. É da maneira de Deus!" O verdadeiro trabalho ao Senhor é feito humildemente, pois é feito, não com a nossa força e para a nossa glória, mas na força do Senhor, para a Glória do Seu Nome! Amém.

quinta-feira, 28 de fevereiro de 2013

Ordem ao Coração: Busquem-me!

por Anderson Loureiro

Mensagem que o Senhor me concedeu pregar na União Evangélica onde trabalho.


Ao meu coração me ocorre: Buscai a minha Presença; buscarei, pois, Senhor, a Tua Presença.   Salmo 27.8


Gostaria de fazer uma pergunta acerca deste texto. A pergunta é simples e é esta: Porque a ordem de buscar a presença de Deus ocorre no coração? A resposta que me vem prontamente é esta: simplesmente porque uma ordem dessas só será eficaz se ocorrer no coração! Adiciono a isto, o fato de somente o Senhor poder tocar o coração. Um homem pode arguir outro homem a buscar o Senhor. Mas esse apelo irá atingir, no máximo, os ouvidos do outro indivíduo. Apenas Aquele que “sonda os corações” detêm o poder de  levar esta ordem ao centro do peito!

Neste ponto, abrirei um parênteses para falar do ministério da palavra, seja no evangelismo ou na edificação dos santos. Todo aquele que prega a palavra  - e todos os santos, alguns de maneira específica, outros de maneira geral, são chamados a isto -  precisa estar convicto de que a mensagem que pregará, não nasceu primariamente em seu coração! E o poder com o qual você irá falar não vem do teu carisma, da tua boa dicção, ou do teu diploma de teologia. O poder para anunciar o evangelho deve vir do alto ou o resultado será como palha para o fogo! No livro dos Atos dos apóstolos (ou melhor, atos do Espírito de Deus!), vemos como Deus abriu o coração de Lídia para que ela atendesse ao que Paulo falava! Vemos também, em Lucas 24.32, como o coração dos discípulos ardiam no caminho de Emaús, enquanto ouviam as palavras da Palavra! Causou-me grande regozijo ao ler a comparação, feita pelo irmão Josemar Bessa, entre o chamamento externo feito aos homens por meio de nossa pregação, e o chamamento interno, no coração, feito por Deus. Ele diz: 

“Um bom exemplo disso está no filme O Rei Leão. Nele há uma cena em que as hienas cercam o pequeno filhote de leão chamado Simba numa caverna. Simba tenta um rugido ( como nossas débeis vozes ao proclamar o evangelho ao homem natural e a hostilidade do seu coração a Deus ) – mas o som que sai não faz as hienas sentirem nenhum temor. Como as hienas continuam se movendo para matar, Simba tenta rugir novamente com sua “voz” débil. Mas sem que ele ou as hienas soubessem, Mufasa, o Rei dos Leões, entrou na caverna. Simba enche seus pequenos pulmões de filhote... e Mufasa enche os seus pulmões enormes juntos com ele, mas sem ser visto por ninguém. Quando Simba ruge novamente, a caverna se enche com um rugido terrível e completamente assustador. As hienas só vêem o movimento da boca de Simba, mas o que ouvem é o barulho estarrecedor da voz do Rei dos Leões.” É somente quando o Leão da tribo de Judá “ruge”, que corações estremeceram e serão tocados pelo Evangelho!" (veja postagem completa aqui)

Fechando o parênteses e voltando ao nosso texto, com qual intuito temos os nossos corações  tocados pelo Senhor? É porque Ele deseja lavar-nos à Sua presença! Ele quer comunhão conosco, porque quer comunicar-nos o melhor que Ele tem: Ele mesmo! Porque Ele nos ama tanto, Ele não quer que saciemos nossa fome de alegria com com cebolas do Egito. Não quer que saciemos nossa sede com cisternas rotas! Àqueles que tem fome, Ele diz, venham! Ele é o Pão da Vida! Àqueles que têm sede, venham também! Dele jorra a Água da Vida! E você? Você tem fome? Você tem sede? Você pode dizer como Davi: - Ó, Senhor, assim como a corsa suspira pelas correntes das águas, assim, por ti, ó Deus (não pelas bençãos ou pelos dons que tu possas dar!), POR TI, ó Deus, suspira minha alma! A minha alma tem sede de Deus, do Deus Vivo; quando irei e me verei perante a face de Deus? Ó, irmãos e irmãs, conseguem sentir anseio incontrolável do salmista por encontrar-se com seu Deus? Ó, este é um assunto ao qual devemos dar a maior importância. Lembrem-se do tabernáculo em Siló. Lembrem-se como a Arca da Aliança, símbolo da presença de Deus, foi levada embora pelos inimigos filisteus. O assustador de tudo isso, é que os cultos do tabernáculo transcorreram como de costume, mesmo sem a Presença de Deus. Não podemos ficar tão impressionados com assuntos periféricos de nossa vida cristã a ponto de perdermos a sensibilidade com relação à sua presença em nós. John Piper pergunta o porquê de queremos fazer bolinhos de terra na favela, quando Deus nos convida a fazer lindos castelos de areia a beira do mar belo!!!

Lembrem-se de como Paulo desejava tanto a Cristo a ponto de considerar tudo como perda pela sublimidade do conhecimento de Cristo (Filipenses 3.4-8)! Ele queria Cristo! Ele queria Sua Presença! E há mais! Veja o nosso Senhor! Como ele se retirava para orar! Alguém perguntou porque Ele orava tanto se Ele era Deus. Paul Washer responde com uma pergunta: Será que é tão difícil crer que ele se retirava para orar simplesmente porque ele amava estar na presença de seu Pai? O que te motiva a orar? É para você ter mais unção??? Porque você estuda as Escrituras e porque você lê tantos livros e sites inteiros de teologia? É para ser um melhor debatedor??? Paul Washer ainda continua afirmando que se você tem uma mente bem treinada teológica e filosoficamente, mas não tem tempo de oração, não passa tempo na presença de Deus, então você não vale nem dois centavos de dólares no Reino dos Céus!

E então, está ocorrendo em seu coração, o que ocorreu no coração do salmista? Ocorre em seu coração: Buscai a minha Presença? O Senhor graciosamente tocou o interior do seu peito? Se sim, então não vacile nem um momento e responda junto com Davi: - Buscarei pois, Senhor, a Tua Presença!

terça-feira, 26 de fevereiro de 2013

Fome de Deus

Rev. Hernandes Dias Lopes

Abaixo, compartilho um excerto do livro "Fome de Deus" do Rev. Hernandes Dias Lopes. Mensagem de exortação para a Noiva de Cristo!


"Hoje, muitas pessoas estão famintas de outras coisas e não famintas de Deus. Estão atrás de bençãos de Deus e não do Deus das bençãos. Querem bençãos e não O abençoador. Querem as dádivas e não O doador. Querem agradar a si mesmas, e não a Deus. Querem promoção pessoal, e não a glória de Deus. Buscam saúde e prosperidade, e não santidade. Correm atrás do sucesso, e não da piedade. Têm fome de mamom, e não de maná.
Outros buscam conhecer a respeito de Deus, mas não conhecem a Deus. São ortodoxos de cabeça, mas hereges de conduta. São zelosos de doutrina, mas relaxados com a vida. São defensores da verdade, mas estão secos como um deserto e duros como uma pedra. Buscam conhecimento, mas não têm fome de Deus. Têm lu na mente, mas não sentem fogo no coração. Têm a cabeça cheia de conhecimento, mas o coração está vazio de devoção. O resultado é que temos igrejas cheias de pessoas vazias de Deus e igrejas vazias de pessoas cheias de Deus. Essas pessoas têm fome de muita coisa, mas não do Deus vivo!
Oh! estamos precisando de uma geração que tenha fome de Deus. Pior do que fome é a inapetência, a falta de apetite. Falta de apetite é doença e a doença mata mais rápido do que a fome. O salmista disse: "A minha alma tem sede do Deus vivo" (Sl 42.2). Os filhos de Coré diziam: "O meu coração e a minha carne exultam pelo Deus vivo" (Sl 84.2). O povo de Deus anda sem apetite espiritual. As coisas de Deus parecem não empolgar mais os filhos de Deus. Eles olham para as coisas de Deus e dizem: que canseira (Ml 1.13)! Eles não têm alegria na Palavra. Eles não tremem diante da Palavra. Eles não têm pressa para orar. As reuniões de oração estão morrendo nas igrejas. O povo tem tempo para reuniões de planejamento, mas não tem tempo para orar. O povo acha tempo para o lazer, mas não para buscar a face do Senhor. É que falta fome de Deus. É que a nossa alma não está impregnada de Deus, nem apegada a Ele. Cantamos que Deus é o amado da nossa alma, mas não conversamos com Ele, não ouvimos a Sua voz nem nos alegramos Nele. Cantamos porque gostamos de cantar. Celebramos porque isso faz bem a nós mesmos, mas não fazemos para alegrar a Deus nem para nos alegrarmos Nele. Cultuamos a nós mesmos, em vez de cultuar a Deus.
A fome de Deus é o primeiro passo para um reavivamento espiritual. As pessoas vêm à igreja, mas não há nelas expectativas de encontrar Deus. Elas se acostumam com o sagrado. Elas lidam tanto com os assuntos espirituais que perdem a sensibilidade com o sublime. Elas gostam da Casa de Deus, mas não encontram Deus lá. Elas amam a Casa de Deus, mas não conhecem na intimidade o Deus da Casa de Deus."
(extraído das páginas 22 e 23 do Livro "Fome de Deus" do Rev Hernandes Dias Lopes)
E você? Você congrega porque tem fome de Deus? Você o busca ansiosamente? Ou se contenta em cultuar sua própria carne?

domingo, 3 de fevereiro de 2013

Levante-se Garoto(a)!

por Anderson Loureiro

Desde que meu filho começou a dar seus primeiros passos, eu e minhas esposa naturalmente esperávamos que o pequeno levasse uns "tombos" de vez em quando. Interessantemente, quando isso ocorria (e ainda ocorre...) nossa reação não foi aquela de fazer um biquinho de dó, quase com lágrimas nos olhos, seguida daquelas célebres frases: - Óooooooo, meu nenê fez dodói....Óoooooo, tadinhoooooo, deixa a mamãe ver se machucou...e tantas outras. Eu particularmente tive o privilégio de ter dois irmãos, um 10 anos mais novo do que eu, e o outro 11 anos. Notei que algumas vezes quando tropeçavam, ou quando pulavam do berço e se espatifavam no chão não se ouvia um "pio". Bastava alguém aparecer é dizer o Óooooooo, e o berreiro começava. De forma que resolvi fazer diferente com meu filho. Quando ele tropeça e cai, eu e minha esposa falamos: Êeeeeeeee, levante-se, não foi nada! As vezes batemos palma, e dizemos a ele que ele é um garoto forte! Incrivelmente, não me lembro dele chorar a toa, por tombos que os meus irmãos com certeza chorariam. O que quero compartilhar é que uma proteção exagerada por parte dos pais deixará os filhos fragilizados diante de algumas dificuldades. Impedirá que eles "engrossem a casca". Isso não é falta de amor. Na verdade isso é amor ao estilo do Pai Celestial. Em Jeremias 12:5 lemos como o Senhor se dirige a Jeremias em respostas às suas questões (reclamações): “Se te fatigas correndo com homens que vão a pé, como poderás competir com os cavalos? Se tão-somente numa terra de paz estás confiado, como farás na enchente do Jordão?” Vincent Cheung é um escritor cristão que muito admiro. Ele escreve num texto que trata sobre a Soberania Divina diante das lutas humanas:

Da mesma forma, Jesus esperava que seus discípulos confiassem em Deus mesmo em face da tempestade que ameaçava a vida deles, de forma que quando eles estavam temerosos, Ele repreende-os, dizendo: Onde está a vossa fé?” (Lucas 8:25). Onde está a simpatia? Onde está a gentileza? Mas Jesus não parece nada com o pregador efeminado que muitos crentes proclamam. Eles adoram um ídolo criado por eles, uma prole de um casamento entre o pensamento bíblico e pagão. Sem dúvida eu não me submeterei a tal coisa, mas a condenarei com confiança e autoridade, no nome e espírito de Cristo, com toda sua energia, que tão poderosamente opera em mim (Colossenses 1:29). Cristãos contemporâneos desaprovam isso porque eles têm sido ensinados pelas tradições de homens, não pelas doutrinas de Deus. Eles não O conhecem, e julgam Seus métodos e Seus servos pelos padrões perversos deste mundo. (http://www.monergismo.com/textos/soberania_divina/lutas-humanas-soberania_V-cheung.pdf)
De fato a situação dos discípulos era desesperadora! Você já ficou em um barquinho, à noite no meio de uma tempestade, prestes a afundar? Eu não, mas posso imaginar (e já vi uns filmes que mostram essa situação...é de perder o fôlego!) Interessantemente, o Senhor Jesus não disse: Óooooo, tadinho dos meus discípulos, deixe-me ajudá-los. E após Ele acalmar a tempestade Ele não disse: - Alguém se machucou? Fez dodói aí, Pedrinho. Não, Ele estava interessado em tornar seus discípulos mais cheios de fé e de coragem, então perguntou: -Onde está a vossa fé? 
Devemos receber as circunstâncias adversas como vindas das mãos de Deus. Ele resolveu ter um povo forte e cheio de fé. Para isso nos deu seu Espírito e somos mais do que vencedores em Cristo Jesus. Então levantem-se garotos(as)!!!