domingo, 27 de abril de 2014

A Soberania de Deus nas aflições da Igreja.

por David Chilton

E ao anjo da igreja em Esmirna, escreve: Isto diz o primeiro e o último, que foi morto, e reviveu: Conheço as tuas obras, e tribulação, e pobreza (mas tu és rico), e a blasfêmia dos que se dizem judeus, e não o são, mas são a sinagoga de Satanás. Nada temas das coisas que hás de padecer. Eis que o diabo lançará alguns de vós na prisão, para que sejais tentados; e tereis uma tribulação de dez dias. Sê fiel até à morte, e dar-te-ei a coroa da vida. Apocalipse 2:8-10

E assim, por detrás até das intenções do diabo em derrubar-nos está o decreto absoluto de Deus. Satanás inspirou os caldeus a roubar os rebanhos de Jó, e não obstante, a resposta de Jó foi: “O Senhor deu, e o Senhor tomou. Bendito seja o nome do Senhor!” (Jó 1:21). 10 Dessa forma através do propósito divinamente ordenado na ímpia atividade do diabo é que podemos ser provados: Como Samuel Rutherford disse: O diabo não é senão um mestre-adversário enviado de Deus, como na esgrima, para ensinar-nos a manejar nossas armas.” 11 Em última instância, as provas dos cristãos não são ordenadas por Satanás, mas por Deus; e o resultado não é destruição, mas pureza (compare Jó 23:10; 1 Pedro 4:12-19). As tribulações da Igreja de Esmirna seriam terríveis, mas de duração relativamente curta: dez dias. Daniel e seus três amigos haviam sido provados por dez dias, mas passaram a prova, e foram promovidos a um alto privilégio (Daniel 1:11-21). De maneira similar, à perseguição da igreja de Esmirna pelos Judeus seria permitido continuar somente por um curto tempo mais, e logo a igreja seria livre: Dez dias de tribulação em troca de mil anos de vitória (Apocalipse 20:4-6). Ainda assim, o tempo de provação haveria de custar a vida de muitos da igreja, e por isso são exortados a serem fiéis até a morte, para obterem a coroa da vida. Esta não é uma benção reservada para alguma classe extraordinariamente consagrada de cristãos, porque todos os cristãos hã de ser fiéis até a morte. Simplesmente, a Bíblia não reconhece outra classe de cristãos. “Se sofremos, também reinaremos com ele; se O negamos, Ele também nos negará” (2 Timóteo 2:12) “ E sereis aborrecidos de todos por causa do meu nome; mas aquele que perseverar até o fim, será salvo” (Mateus 10:22). A coroa da vida é a salvação.

O cristão fiel que vence a oposição e tentação não sofrerá o dano da segunda morte. O fato de que isto foi dito originalmente a igreja do primeiro século nos ajuda a entender o significado de outra passagem neste livro. Apocalipse 20:6 nos diz que aqueles que não sofrem o dano da “segunda morte”, são os mesmo que participam da “primeira ressurreição”; e que são sacerdotes e reis com Cristo – uma benção que João já havia afirmado ser um realidade presente (Apocalipse 1:6). Necessariamente, portanto, a primeira ressurreição não pode referir-se a ressurreição física do fim do mundo (1 Coríntios 15:22-28); Mas deve se referir ao que Paulo ensinou claramente em sua carta aos Efésios “Vós outros estáveis mortos em vosso delitos e pecados...Mas Deus, sendo rico em misericórdia...ainda estando mortos em delitos e pecados, nos deu vida juntamente com Cristo (pela graça sois salvos) e juntamente com ele nos ressuscitou” (Efésios 2:1,4-6). Em todo tempo, o cristão é participante da primeira ressurreição na nova vida em Cristo, havendo sido purificado de sua (primeira) morte em Adão. 12 “Têm a vida eterna, e não verá a condenação, mas passou da morte para a vida” (João 5:24).


10. Veja comentários de João Calvino sobre esta passagem nas suas Institutas da Religião Cristã, ii.iv.2.
11. The Letters of Samuel Rutherford, Frank E. Gaebelein, ed. (Chicago: Moody Press, 1951), p. 219.
12. Obviamente, haverá um segunda ressurreição (física) ao final da história, mas não mencionada em Apocalipse 20:6. Veja João 5:24-29, onde Cristo discorre sobre ambas ressurreições.